novos passos.

não escrevo nada por aqui desde outubro do ano passado, em que publiquei um texto que havia escrito para a minha mãe, nos seus últimos dias de vida. arrisco a dizer que foi mais ou menos naquela época que deixei de lado as palavras, como uma maneira de tentar me dar um tempo. de tentar não colocar o dedo na ferida. de tentar me ocupar com todas as formas possíveis de ocupações para evitar qualquer pensamento mais profundo. não é que desejei me tornar mais “rasa”. é só que resolvi dar o espaço necessário para que as feridas se cicatrizem. é tipo colocar o band-aid no machucado para evitar ficar vendo o nosso sistema biológico agir – evitar aquela vontade de arrancar a casquinha.

o tempo passou e posso dizer, sem nenhum medo que ainda não passou a dor, o medo e a vontade de arrancar a casquinha. ainda não passou a vontade de ligar diariamente para a minha mãe, a esperança de chegar em casa e encontrá-la e a certeza de que, ao acordar pela manhã, vou encontrá-la no quarto ao lado. mais do que isso, não quero que jamais passe a sensação de sua intensa presença em todos os momentos.

mas escolhi hoje, dia 15 de junho, para dizer que, de uma forma ou de outra, estou de volta. decidi voltar a escrever e a descrever os meus sentimentos mais humanos e comuns. após pensar muito a respeito e à ensaiar algumas palavras bobas, percebi que já era a hora de dedicar um tempinho que fosse ao blog. mais que isso, decidi que talvez seja a hora de amadurecer a forma de escrever.

ao mesmo tempo, decidi tomar outros rumos na minha vida profissional e prometo, em breve, contar mais sobre amadurecimentos. e que o tempo seja carinhoso e paciente com quem está reaprendendo a andar.

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Para a minha mãe,

Agora o coração dói, falta ar e os olhos se inundem de água. Já são tantos anos de luta incessante, de força incondicional, de fé sem limite e de amor verdadeiro. Lembro de quando tudo começou, de me sentir um peixe fora d’água, perdida nos termos médicos, tentando entender a gravidade da noticia. Fui no Google e descobri que havia sempre uma esperança e foi aí que me apeguei: tento diariamente enxergar uma solução positiva para toda essa realidade que me da um soco no estômago. Sempre há uma forma de melhorar, mesmo quando você percebe que o melhor não é exatamente o que você queria. Aliás… O que se pode querer, frente a vê-la tão diferente do que sempre foi. Vê-la chorando, em momentos de lucidez, faz doer ainda mais. Assim como vê-la sorrindo, em momentos de igual lucidez frente a uma boa posição, uma visita ou um desejo atendido, me acalma a alma, me faz sorrir de volta. Ah, mãe! Quanto você me ensina diariamente, eternamente. Você uniu a nossa família, até nas maiores dificuldades. Você nos ensina a sermos maiores, superiores aos problemas, nos tensina a nunca deixar de lutar e quando as vezes é melhor deixar para la, sem falar que não devemos ter vergonha de sermos nos mesmos, desde que seja de verdade. Ah, mãe! Eu daria tudo para estar no seu lugar, sentir a sua dor e passar por tudo o que você passa, se pudesse te aliviar desse processo. Digo, sem dúvida, que você é a melhor mãe, mulher, esposa e menina do mundo. Você, com esses olhos verdes, esses cabelos lindos e esse jeito de ser fazem o mundo mais especial, diferente, único. Você da brilho, da cor, espalha amor por onde passa e distribui sorrisos. Aliás, mamãe, entendi por que conversar com todo mundo nas filas de banco e falar com desconhecidos nas mais diversas situações: é o seu jeitinho de espalhar encanto para as pessoas, de deixar o mundo melhor, de dar cor a vida. É egoísmo meu não querer te deixar fazer a passagem, seguir seu caminho, parar de sentir dor. É sim! Eu sei. Mas é que não consigo imaginar um dia sequer sem seu beijo, seus abraços, seu carinho, sua atenção, preocupação, conselhos e até do seu mexido, de você cantarolando as músicas fora da hora, de ficar acordada até tarde vendo luta ou filme de terror, do leite quente antes de dormir, do biscoitinho com café, do buraco, das broncas, das viagens, do seu senso de direção, da sua organização… Aí lembro que serão reveillons, almoços em família, natais, dia das mães, 12 de fevereiro, 31 de janeiro, 30 de julho, 13 de setembro, meu casamento, seus netos, minha casa, nossas viagens… Ainda temos tanto a fazer juntas! Aliás, ficamos de ir na zara olhar roupas com o cartão do papai e não conseguimos ir – eu sei, minha culpa. É cravo para espremer, é ouvir “adoro quando você da um jeito na sua vida!” e outros milhões puxões de orelha. Eu sinto que ainda ta só no começo e que, sem você, como é que vai ser possível acordar de manhã? Eu simplesmente não sei se eu consigo. Mas isso tudo, não passa mesmo de egoísmo, pois, ao te ver deitada nessa cama, descendo diariamente um degrau… Eu vejo que você não merece as coisas no ponto em que elas chegaram. Você não merece a dor, a confusão mental, a frauda, o o2, ter que depender tanto dos outros, precisar de ajuda para terminar um pensamento… Você não merece ficar sem comer as comidinhas que ama, nem ficar sem ver sua novela, ficar sem jogar o seu baralho, não merece ficar sem intimidade com seu marido e nem ficar sem conversar direito com suas amigas, muito menos sem saber de tudo o que se passa com as suas filhas. Você, uma mulher tão maravilhosa, não merece passar pelo o que você está passando. Então, te digo como quem te ama sem fim e precisa de você: vai, segue o seu caminho, para de sentir essa dor e de se preocupar. Eu prometo que jamais vou me esquecer de você e de tudo o que você me ensinou. Jamais vou desistir da nossa família unida, e de você entre nós 3. Jamais vou deixar de ficar de olho no papai e na Naty e que vou contar com eles sempre. Jamais vou deixar de ter fé que você estará sempre presente, principalmente quando estivermos nos 4 juntos. Jamais vou deixar de colocar ordem no meu quarto, na minha vida e não deixarei de correr atrás dos meus sonhos, e não deixarei ninguém me fazer de boba. Eu te amo, amo muito, amo demais. Amo sem limite e eu quero saber de você sempre bem, o melhor impossível. O que acalma o coração é saber que dentro de mim, tem você em cada pedacinho – da anisedade e de ser super conversadeira, ao batom vermelho, signo e número de sapato . E é aí, nesse momento que o coração dói, pois já sabemos o final da história.

Escrevi esse texto em uma das noites em que dormia com a minha mãe no hospital e com o coração apertado. Infelizmente, mamãe se foi alguns dias depois por motivos naturais da doença. Deixou amor, carinho, bons ensinamentos, lembrança maravilhosas e muito amor. Ainda dói – é recente, a ferida ainda está aberta. Mas a certeza é que tudo valeu a pena e que ela sempre estará entre nós.

 

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a estranha sensação de não ser mais a mesma em um mesmo lugar. tenho tanta coisa para dizer: é o estoque eterno de saudade, é o amor pela minha mãe, é a falta que faz o silêncio, é vontade de pegar o primeiro vôo em direção a qualquer lugar bem longe daqui, é a incerteza de estar no caminho certo, é a sede de liberdade. é essa liberdade que me picou e que não me deixa mais dormir, sem lembrar de como as coisas costumavam ser. o tempo passa e a cada dia, percebo uma parte de mim que não está aqui.

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a dor é de quem tem.

eu chego em casa, completamente bêbada após uma taça de vinho ou outra – para não dizer uma garrafa e meia – e não consigo dormir sem ouvir uma música. nesse meio tempo me flagro vendo as imagens do passado. eu estou bêbada. penso. como escrever…aliás…como não dizer o que sinto. cada parte do meu corpo sente falta de uma coisa diferente: um amigo distante que me faria sorrir com uma piada boba; outro amigo que brinca com o meu cabelo na mesa do bar; aquele abraço de despedida que faz encher os olhos; o presente que você não esperava; aliás… a presença inesperada; a exata música para o momento se tornar perfeito; dois olhares que se inundam ao se encontrarem; aquela noite que ficamos de fazer um bolo de cenoura e fomos dormir bêbadas; aquele jantar árabe que me fez respirar fundo e enxergar que as pessoas mais especiais estavam ao meu lado; a surpresa de chegar em casa e ter um jantar preparado por você; aquele show em que fomos todas de flor; aquele café que ficou para amanhã; (…). a minha memória é toda cheia de amor, pintada de arco-iris e amor e me faz ficar toda boba só de lembrar.

hoje a noite foi linda. cheia dos velhos amigos, a antiga sensação de estar em casa e, mesmo assim, nada ter mudado. a mesma tranquilidade de que tenho algumas das melhores pessoas do mundo ao meu lado. mas… senti que faltava uma parte: faltava todo mundo que não estava por perto. faltava todo mundo além deles: faltavam vocês. amigos, amantes, amores, loucos, paixões, irmãos e parte do meu corpo e alma. faltam vocês colocando o ritmo e a loucura na minha vida. faltam vocês tanto quanto o pessoal daqui faltou enquanto estive aí.

e é quando eu percebo que jamais estarei satisfeita: sempre vai ter alguém que vai me fazer falta. sempre sentirei a falta de alguém distante. taí a dor maior de se entregar o mundo: a dor é minha, e de mais ninguém.

 

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ignoro-me;

não escrevi o post de retorno ao brasil. sequer dei uma palavra sobre o quão fantástico foi 2013. o meu jeito desleixado de começar 2014 me fez evitar comentar inclusive os mais novos acontecimentos: as velhas notícias de todos os anos, sempre novas. nem mesmo reclamei do Rio de Janeiro com a sensação térmica de 50 graus em um dia em que eu tentava ir em uma exposição badaladissíma no ccbb. não comentei os últimos escândalos do maranhão, o último livro que acabei de ler (que aqueceu meu coração) e o drink favorito do verão. não disse ainda sobre a saudade de milão e das pessoas que fazem falta diariamente.

ando como um trapo largado no canto da sala em um dia quente. aquele pedaço de roupa que se tira ao colocar o pé em casa e se sentir seguro e confortável para expor um pouco mais de pele. qual o motivo do silêncio? talvez o calor. a falta de tempo de colocar a mão na consciência e digerir tudo o que vêm acontecido. ou, vai ver, é a vontade de ver tudo acontecendo de novo. não há tempo para respirar. qual o motivo do reaparecimento? a saudade. aquela maldita que insiste em grudar no meu pé não me deixa dar passos longos. me prende em algum canto da sala – o mesmo em que me encontro pensando e lembrando. as coisas estão indo tão depressa que me falta um pouco de ar e água fresca. me falta um dia jogada na cama, de perna para o alto, um pedaço de papel e uma caneta preta. transcrever-me. traduzir-me. entender-me. não que seja possível mas preciso suprir o vício de escrever sobre o que se passa nos espaços mais obscuros.

não é falta de tempo. é falta de coragem.

ou vai ver é a consciência de que ao se revirar tudo, irei encontrar sentimentos ainda mais profundos e lembranças ainda mais reais do que aquelas que eu penso ter. acima da minha vã noção de mundo.

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